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Momento de exercitar a empatia

Após chegar de uma viagem internacional, semana passada, comecei a vivenciar uma realidade completamente diferente da qual vivera, até poucos dias, quando embarquei para Dubai, a fim de participar de um encontro de mulheres pelo programa “Inspirando mulheres empreendedoras” da Global Experiences.
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O estranhamento começou no momento do retorno ao Brasil, já no aeroporto para o check-in, até o embarque. O olhar das pessoas e as situações que vivenciei, colocaram-me em um patamar de restrições, até então não percebidas, diante da atual gravidade que estamos vivendo com relação ao coronavírus.
Nestes últimos dez dias, estive nos Emirados Árabes ouvindo notícias sobre o vírus e do seu avanço no mundo inteiro. Lá, pouco se fala, mas a internet e as redes sociais nos mantêm informados.
No avião, durante 15 horas, e mais o tempo de espera e a viagem para Porto Alegre, estive com luvas e máscara para proteção, algo que a gente tem que se adaptar, porque é muito desconfortável e verdadeiramente assustador.
As pessoas evitam contato e olham desconfiadas com relação as outras (claro que algumas se destoam). Parecemos seres sem identidade, sem história, sem sentimentos, sem humanidade. Apenas seres com restrições e sem liberdade.

Durante minha vida profissional convivi e presenciei muitas situações de restrição, ao qual sempre me solidarizei e trabalhei para uma mudança de fato. Os princípios e valores sempre pautaram a minha vida, de forma a ter um olhar e uma atitude para a paz, o bem e para a dignidade humana.
Agora, no entanto, percebi-me em situação estranha, sem livre arbítrio, com atuação restrita e com receios sobre o que há de vir. A sensação de não poder se movimentar é algo indescritível.
Encontro-me em isolamento em casa, por orientação da OMS e com a distância necessária e prudente de meus filhos e marido. Todos muito assustados e evitando chegar perto.

Por própria decisão, resolvi acolher-me em um dos quartos, afastando meus entes queridos e tendo contato somente de longe e quando necessário. O álcool gel e o sabão estão presentes em minha vida mais do que nunca.
Assim, percebi-me como intrusa e como se o meu mundo fosse outro. Minha companhia tornou-se restrita e, por isso, busquei nas leituras um conforto. A primeira delas, maravilhosa e desafiadora, sobre a vida de mulheres guerreiras que fizeram e fazem diferença em seus mundos. História escrita por Consuelo Blocker e sua irmã, vale a pena ler! Outra, sobre mediação escolar, que será meu foco para o desenvolvimento de um programa nas escolas junto com parceiros e minha sócia na Câmara de Mediação e Negociação Mediadores do Sul. Além disso, só converso com amigas e colegas pelo Whatsapp, que é o que dá para fazer.

Estar isolada, longe de tudo e de todos, sem o calor humano e a possibilidade do livre arbítrio de ir e vir, fez-me pensar, e muito, sobre empatia e o quanto ela tem-me feito falta. O fato de pensar no outro e colocar-se ao seu lado, perceber os seus sentimentos e entender as suas angústias é o que mais precisamos hoje em dia nesse momento de afastamento e de incertezas.

Lidar com algo invisível, sem cara e coração, é o que nos assusta, e tanto. Sentir-se isolada, sozinha e sem saber como as coisas vão evoluir será, somente, um momento em minha vida, no entanto, é imperioso perguntar-se: como ficam as pessoas que, além e aquém do coronavírus vivem e convivem com a solidão, com a discriminação e o isolamento desde sempre? Tantas pessoas que sofrem e sentem dores no corpo e na alma e que precisam tanto de nós, que somos capazes de perceber o quanto o olhar do outro nos chama. É tão difícil assim entender que não estamos sozinhos? A empatia é o elo de que precisamos para um mundo mais feliz. Doar-se e entender o outro pode fazer-nos menos egoistas e individualistas.

Necessitamos desenvolver relações mais sustentáveis, no que diz respeito ao amor, a solidariedade e a dignidade humana. Faz-nos pensar como estamos agindo e lidando diante de situações de conflito uns com os outros. Por isso, o exercício da empatia é mais do que necessário nesse momento de incertezas. A solidariedade, o colocar-se junto ao outro (no sentido do auxílio e do entendimento) e pensar que somos parte de um todo, em constante sinergia, é o que nos faz melhores.

Talvez, seja esse o momento de mudar o nosso comportamento, mudar o nosso olhar, o nosso entendimento sobre a vida, com atitude! Desenvolvemos a nossa humanidade a partir do outro, da convivência e das trocas de experiências.
Todos precisamos ser felizes!

Eu continuo em isolamento por mais alguns dias, não estou apresentando sintomas, mas o “corona” é silencioso e toda prudência será necessária!